Música

Voltando a cena em turnês de reencontro, Soweto e Só Pra Contrariar lançavam discos marcantes há 25 anos

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O mês de abril de 2024 chega trazendo duas turnês muito aguardadas pelos amantes de pagode: Soweto e Só Pra Contrariar estarão rodando os palcos do Brasil — e até do exterior — para rememorar grandes sucessos das respectivas carreiras. O Soweto entra em cena para celebrar 30 anos de carreira, e o grande presente para a marca foi trazer de volta ao grupo o cantor Belo e o músico Claudinho de Oliveira, que se juntam a Criseverton (único integrante da formação original que permaneceu) e Dado Oliveira, vocalista do conjunto desde 2012  — Marcinho e Digo, demais componentes da formação clássica, são ausências certas na turnê por serem evangélicos. Já o SPC contará mais uma vez com Alexandre Pires nos vocais, trazendo de volta quase toda formação original (incluindo os que seguiram tocando o grupo, como é o caso do irmão Fernando Pires) para apresentar o show “SPC Acústico 2 — O Último Encontro”, uma continuidade do álbum lançado pelos mineiros em 2002.

E é nesse 2024 de reencontros que se completa 25 anos do lançamento de dois álbuns clássicos de ambos e do pagode: “Farol das Estrelas” e “SPC 99” — também conhecido como o “disco do Interfone”.

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Soweto na apresentação da turnê de 30 anos (Foto: Thiago Duran/Brazil News)

Ainda desfrutando do estrondoso sucesso de “Refém do Coração” dois anos antes, o Soweto teria o desafio — palavra que entraria no destino do grupo logo depois — de fazer algo ainda melhor que o bem-sucedido trabalho anterior que emplacou sucessos e vendeu feito água (mais de 1,5 milhão de cópias). Dito e feito: chegava às lojas, em maio de 1999, “Farol das Estrelas”, terceiro álbum do quinteto. 

Com produção de Bira Hawai e arranjos de Jota Moraes, Ivan Paulo e Prateado, o “Farol” conseguiu manter o alto nível deixado pelo “Refém”, no repertório e na qualidade musical. Antes mesmo do disco chegar as lojas, chegava às rádios — e a boca do povo — o primeiro, de muitos, sucessos: a introdução em que Belo recitava os versos finais anunciava a faixa-título assinada por Altay Veloso e Paulo César Feital. Uma canção marcante, do arranjo que valorizou seu romantismo até a poética letra, tão romântica quanto. Afinal, quem nunca se apaixonou ao som de versos como “Se o brilho da nossa verdade / Durar para a eternidade / A estrela da felicidade encontrei”, né?

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O romantismo de “Farol da Estrelas” explodiu nas paradas e puxou um sucesso atrás do outro: Altay Veloso aparece novamente, na autoria de “Não Foi À Toa”. E daí veio “Tudo Fica Blue” (Carlito Cavalcante/Délcio Luiz), “Entre a Cruz e a Espada” (Ademir Fogaça), “Búzios e Tarô” (Claudinho de Oliveira), “Tempo de Aprender” (Chiquinho do Santos) — que inicialmente foi entregue para ser gravada pelo Exaltasamba, como o próprio autor contou em entrevista ao “Brito Podcast”…

Outras canções não deram a sorte de emplacar nas rádios, mas merecem seu destaque por não deixarem a qualidade cair. Casos da romântica “Gosto do Desejo” (Marcio Paiva/Adalto Magalha, 1945–2016), do flerte com o samba-canção em “Dom do Amor” (Claudinho de Oliveira) e da ainda mais romântica (com um toque mais sentimental) “Impossível Te Esquecer” — outra assinatura de Claudinho, num dos melhores arranjos do disco.

Na parte final do CD, nasceriam outros hits: “Briga de Paixão” (André Renato/Charlles André), “É Tudo” (Claudinho de Oliveira) e seus marcantes acordes do banjo de Arlindo Cruz durante a faixa; e “Preciso Te Amar”, de Xande de Pilares e Mauro Junior, antes de emplacarem com o Revelação. No meio delas, as românticas “Canção Feliz (Faço Tudo Outra Vez)”, de Prateado, Luiz Cláudio Picolé e Adalto Magalha (1945–2016), e “Restou Saudade” (Claudinho de Oliveira), além do partido alto de “Nossa Canção” (Waguinho/Charlles André).

Farol das Estrelas foi um grande marco para o pagode, além de ter sido histórico. Em todos os sentidos: foi o último álbum do Soweto tendo Belo como vocalista — pelo menos até agora. No ano 2000, o loirinho deixaria o grupo para seguir o desafio da carreira solo, sendo substituído por Henrique Santos no disco “Fotografia”.

A contracapa do SPC 99

Se os quatro primeiros discos da carreira foram um notório sucesso de público e crítica, o CD de 1997 colocou o Só Pra Contrariar no panteon do sucesso, ao ultrapassar a marca de 3 milhões de cópias vendidas, além de ganhar prêmio internacional e lançar uma versão em espanhol. Para o trabalho seguinte, a ordem era única: ser ainda melhor e mais envolvente. Certo? Muito certo! 

“Só Pra Contrariar como você nunca ouviu”, anunciava o comercial que era exibido exaustivamente na televisão. Bem que o informe estava certo: o CD (primeiro gravado no estúdio da Família Pires, em Uberlândia, além de estúdios no Rio e em Miami) se embala em arranjos de pura qualidade — criados por Pedro Ferreira e Jota Moraes. O romantismo estava mais presente do que nunca, tendo como primeira grande prova o cartão de visitas e primeiro sucesso do CD, “Interfone”, onde Altay Veloso abusa da criatividade (e da genialidade) ao citar na letra os programas de televisão exibidos à época no fim de noite — “O Jô já fez a última entrevista / Amaury também já foi embora / Já está terminando o Perfil / O Intercine que acabou agora / Com certeza você também viu”.

E se der a mão, vai dar logo o pé? O partido alto se faz presente na bem-humorada “Sai da Minha Aba (Bicão)”, de Alexandre Pires e Lourenço (1955–2017), que ganhou as paradas de sucesso e um clipe, estrelado pelo ator Eri Johnson no papel do “bicão”. O romantismo volta com tudo quando o SPC traz para o pagode “Machuca Demais” (Waldir Luz/Marcos Maceió), sucesso emplacado por Bruno & Marrone no ano anterior. Daí pra frente é overdose de romantismo, com a sentimental “Tudo Acaba em Perdão” (Régis Danese/Luiz Cláudio) e a apaixonante “Coladinhos” (Peninha), num dos melhores arranjos do álbum.

O lado bem-humorado volta ao disco numa exaltação à terra-natal da banda que mistura romantismo com comédia em “Fazendeiro”, outra parceria de Alexandre e Lourenço. Mas o lado romântico volta com tudo, na sequência com “Não Chora” (Chico Roque/Sérgio Caetano), “De Corpo Sem Alma” (Régis Danese/Luiz Cláudio) — com um solo de guitarra irresistível, fazendo um flerte com o blues, e “No Céu da Paixão”, versão bem brasileira de Alexandre Pires e Marquinhos Mosqueira para o hit “I Believe I Can Fly” de R. Kelly. 

A parte romântica continua em “Graças ao Teu Coração”, mais uma caneta de Alexandre Pires e Lourenço. Na décima primeira faixa, as alas são abertas para o agito de “Baianeiro” (Luiz Silva), uma boa mistura do axé baiano com o toque mineiro do SPC. O disco fecha com a última sequência romântica: o sentimento de “Coração Profano” (Altay Veloso), a sofisticação de “O Que Importa é o Amor” (Alexandre Pires e Marquinhos Mosquera), o samba de “Meu Segmento” (dos mesmos autores) e, fechando com chave de ouro, o toque picante de “Fazendo Paixão” (Chico Roque/Carlos Colla, 1944–2023), regravação de Benito di Paula.

“SPC 99” teve uma nova versão lançada posteriormente, com a inclusão de “Santo Santo” (Angie Chirino/Robert Blades/Emilio Estefan Jr.), dueto do grupo com Glória Estefan. Expandindo — ainda mais — o alcance internacional dos mineirinhos de Uberlândia. E a qualidade também.

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